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Abrace Paul MCCARTNEY POR MIM
ADOLESCÊNCIA
ADRENALINA
ÁGUA E LUZ
aldeia de ogum
amando (with Dori Caymmi)
Americana (with Maurício Maestro)
anos 30 (with Paulo César Pinheiro)
Antonio
Aquelas canções em mim (Joyce Moreno)
Ardente
ARREBENTA
Até Jazz (with Paulo César Pinheiro)
Azul Bahia
Bailarina
Banana
A Banda Maluca
banho-Maria (with Ana Terra)
Baracumbara
Barraco no Metrô
beiramor (with Zé Rodrix)
Beira Rio
Belafonte
Berimbau
Besteiras de Amor (with Marcos Valle)
Bird of Brazil
Bird of Japan
Blues (with Capinam)
Boa Pergunta
Bodas de Vinil
Boiou (Joyce Moreno)
Bota de SETE Léguas
Brasileiras Canções
Brilho e Paixão
Broken Kiss (English version for 'Beijo partido', from Toninho Horta)
cadeira de balanço (About a Carlos Drummond de Andrade poem)
Canário do Brasil
Canário do Japão
Cantar
Cantiga de Procura
Capitão (with Fernando Brant)
Carne, osso e coração
cartas da vida
cartas do exterior
Cartomante (with Rodolfo Stroeter)
Casa da Sogra (with Léa Freire)
Causa Boa
Caymmis (with Paulo César Pinheiro)
Caymmi Visita Tom
Choro do Anjo
Chuvisco
Cinema Brasil (with Francis Hime)
Cínica (with Ivan Lins)
Cio (with Paulo César Pinheiro)
Ciranda da Lua (with Cátia Fonseca)
O Chinês e a Bicicleta
Choro Chorado (with Jards Macalé)
Choro do Anjo (Joyce Moreno)
Chuva no Brasil (with Kazuo Yoshida)
Chuvisco
Clareana (with Maurício Maestro)
Classe Dominante (with RIcardo Villas)
Claude et maurice (Joyce Moreno)
Ciranda das águas (with Zé Renato)
Compor
Compositor (with Paulo César Pinheiro)
Conheço um Lugar (Version for 'There's a small hotel' from Rodgers and Hart)
Convince me (with Robin Meloy goldsby)
copacabana velha de guerra with Sérgio Flaksman)
Coração de Criança (with Fernando Leporace)
Coração Selvagem (with Yoko Kanno)
Cortina de Bambu
Criança
Curioso (with Marcos Caetano Ribas)
DA COR BRASILEIRA (with Ana Terra)
DANÇARINA DO AR (with Ana Terra)
DAQUI (with Rodolfo Stroeter)
DE DEUS (with Sérgio Santos)
DE ONDE É QUE VEM A SAUDADE? (with Zé Renato)
DELICADEZA
DELÍRIOS DE ORFEU (with Cláudio Nucci)
DE LUZIA, ANA E MARIA (with Zé Rodrix)
DEMORÔ
DESAFINADA (english lyric for 'Desafinada', from Mario Adnet and Cláudio Nucci)
DEU NO QUE DEU (with Luiz Tatit)
DEUS E O DIABO (NA DANÇA DO BAIÃO) (with Paulo César Pinheiro)
DESARMONIA (with Zé Renato)
DIGA AÍ, COMPANHEIRO
DIZ QUE EU TAMBÉM FUI POR AÍ
DOMINGO DE MANHÃ (Joyce Moreno)
DOR DE AMOR É ÁGUA (with Paulo César Pinheiro)
DUAS OU TRÊS COISAS
DUAS SOMBRAS (with Paulo César Pinheiro)
…E ERA COPACABANA (with Carlos Lyra)
E PASSA O CARROSSEL (with João Donato)
ELA (with Mario Adnet)
ENCONTRO MARCADO
É OLHO NO MEL (with Sílvia Sangirardi)
ESSA MULHER (with Ana Terra)
ESSENCIAL
ESSENTIAL (English version for 'Essencial')
ESTADO DE GRAÇA (Joyce Moreno with Nelson Motta)
ESTRELA DE OXUM (with Rodolfo Stroeter)
ESVOAÇA (with Ana Cristina César)
ETERNAMENTE GRÁVIDA
EU SOU AQUELA (with Paulo César Pinheiro)
E VAMOS LÁ (with João Donato)
FÃ DA BAHIA
FAXINEIRA DAS CANÇÕES
FEIJÃO COM ARROZ
FEMININA
FORÇAS D'ALMA
FOR HALL
FRASE DE ADEUS (with Paulo César Pinheiro)
FREEVO (with Léa Freire)
FULANO E BELTRANO
GALÃ TANTÃ (with Silvia Sangirardi)
GAROTO
GENTE SÉRIA (with Cacaso)
GILDA
O GIROSCÓPIO (about a poem from Ana Cristina César)
GOLPE DE AMOR (with Ana Terra)
GRATA (with Fátima Guedes)
GUARDADOS (with Ana Terra)
GUARULHOS CHACHACHA
HARD BOSSA
HAVANA-ME (with Paulo César Pinheiro)
HEAVY TELECOTECO (with Fernando Pinto)
ILHA BRASIL (withPaulo César Pinheiro)
IMPROVISADO
JUPARANÃ (with Paulo César Pinheiro)
LADO DO AVESSO (with Ana Terra)
LAMARCA NA GAFIEIRA (with Silvia Sangirardi)
LANGUAGE AND LOVE (English version for 'Línguas e Amores')
LINDA COMO VOCÊ (with Paulo Moura)
LÍNGUAS E AMORES
LONDON SAMBA
LUZ DA CANÇÃO (with João Donato)
LUZ DO CHÃO (with Ana Terra)
MACHO E FÊMEA (with Paulo César Pinheiro)
MADAME QUER SAMBAR (with Roberto Menescal and Carlos Lyra)
MÁGICA
MAIS UMA VEZ, MAIS UMA VOZ (with Ana Terra)
MAL EM PARIS
ME DISSERAM
MEIO A MEIO
MEUS VINTE ANOS (with Ronaldo Bastos)
MINHA GATA RITA LEE
MINHA SEREIA (with Edu Lobo)
MISTÉRIOS (with Maurício Maestro)
A MOÇA E A ROSA (with Paulo César Pinheiro)
MONSIEUR BINOT
MORENA BOSSA-NOVA
MORENO
MUITO PRAZER
MULHERES DO BRASIL
MULHER SOZINHA (with Paulo César Pinheiro)
MUSIC INSIDE (English version for 'Ela' from Joyce and Mario Adnet)
MYSTERIES (English version for 'Mistérios', with Maurício Maestro)
NA CASA DO CAMPEÃO
NA CASA DO VILLA
NACIONAL KID
NA DÚVIDA (with Sérgio Santos)
NÃO MUDA NÃO
NA PAZ
NARA (with Roberto Menescal)
NEGUINHO DO PASTOREIO (with Silvia Sangirardi)
NENHUM DISSABOR (with Paulo César Pinheiro)
NOME DE GUERRA (with Paulo César Pinheiro)
NO FUNDO DO MAR (with João Donato)
NO MILHARAL
NOSOTROS (with Danilo Caymmi)
NOTAS DE VIAGEM
NOVA VIDA (with Claudia Fonseca)
NOVELO (with Paulo César Pinheiro)
NUVEM
O AMOR É O LOBO DO AMOR
OÁSIS (with Léa Freire)
OS MEDOS (with Rodolfo Stroeter)
OUTRAS MULHERES (with Paulo César Pinheiro)
PAPO DE MALUCO (with Marcos Valle)
PARAÍSO (with Maurício Maestro)
PASSARINHO (with Mário Quintana)
PAUSE, BITTE
PEGA LEVE
PEIXE-ESTRELA
PERFUME (with Chiquinha Gonzaga)
PERGUNTAS
PINDORAMA BLUES (with Fernando Pinto)
PURO OURO (Joyce Moreno)
PLEASE GARÇON
PLEXUS (with Johnny Alf)
O POETA E A MAESTRINA (with Chiquinha Gonzaga)
PENALTY
POSTCARD BLUES (about a poem from Ana Cristina César)
POVO DAS ESTRELAS
PRA SABER DE NADA
PRA VOCÊ GOSTAR DE MIM (Joyce Moreno with Zé Renato)
PRENDA
PREPARANDO UM LUMINOSO (with Capinam)
PROCÊ (with Ana Terra)
PROSSIGA (with João Donato)
QUADRANTES
QUALQUER COISA NO AR
QUARUP (with Paulo César Pinheiro)
QUATRO ELEMENTOS (with Paulo César Pinheiro)
QUEBRA-CABEÇA (with Sílvia Sangirardi)
QUERO OUVIR JOÃO (Joyce Moreno with Paulo César Pinheiro)
RÁDIO-CABEÇA
RANCHO DA NOITE (with Paulo César Pinheiro)
RECEITA DE SAMBA (with Paulo César Pinheiro)
REI MORTO, REI POSTO (with Edu Lobo)
REVENDO AMIGOS
RIO-BAHIA
RIO MEU
RISCO (with Léa Freire)
RODANDO A BAIANA (with Maurício Maestro)
RUA DO COMÉRCIO (with Cacaso)
SABE QUEM? (with Zé Renato)
SAMBA DA SÍLVIA (with Sílvia Sangirardi)
SAMBA DA ZONA
SAMBA DE GAGO
SAMBA DE MULHER (with Léa Freire)
SAMBA DO JOYCE
SAMBA PRA ELIS (with Paulo César Pinheiro)
SAMBARI
SAUDADE DO FUTURO with Carlos Lyra)
SEE YOU IN RIO (english version for 'Tardes Cariocas')
SEGUIR O CORAÇÃO
SEM MAIS LUANDA (with Zé Rodrix)
SEM NOME
SEM PODER DANÇAR (Joyce Moreno with Teresa Cristina)
SEXY SÍLVIA (with Edu Lobo)
SHANGRI-LA
SLOW MUSIC (with Robin Meloy Goldsby)
SOBRAS DA PARTILHA (with Paulo César Pinheiro)
SOM DO PLANETA
SOMOS DOIS (with Claudia Fonseca and Elisete Ferreira)
STONE WASHED (with Monique Hecker)
SUOR (with Alberto Rosenblit)
SUPEREGO
TÁ FICANDO RUÇO
TÁ LEGAL (with Zé Renato)
TARDES CARIOCAS
TAXI DRIVER
TELAS (with Paulo César Pinheiro)
TEMA PARA JOBIM (with Gerry Mulligan)
TEMA PRO BADEN
O TEMPO PASSOU (with Sandra Pêra)
TEMPO PRESENTE (with Edu Lobo)
THE BAND ON THE WALL
TODOS OS INSTRUMENTOS
TODOS OS SANTOS (with Maurício Maestro)
TRÊS CAVALEIROS
TRINGUELINGUE (Joyce Moreno)
TUDO (Joyce Moreno)
TUDO BONITO
TUFÃO
TWO OR THREE THINGS (english version for 'Duas ou Três Coisas')
UM ABRAÇO NO JAPÃO (with Zé Renato)
UM BAOBÁ
UM MÚSICO (with Toninho Horta)
VALEU! (with Marcos Valle)
VALSA DO PEQUENO AMOR
VATAPÁ (with Léa Freire)
VELHOS NO ANO 2000 (version for 'When I'm Sixty Four', from Lennon and McCartney)
VENTANIA (with Hermínio Bello de Carvalho)
VIOLA DE PRATA (with Paulo César Pinheiro)
VIOLÃO AMIGO (with Paulo César Pinheiro)
WAITING FOR YOU (with Toninho Horta)
ZOEIRA (with Paulo César Pinheiro)
ADRENALINA
Joyce Moreno
Samba menina
Que adrenalina (bis)
Olha só como samba essa menina
Põe cada vez mais adrenalina
Na alma do povo que vai lá
Que palpita
Se ela faz fita
A galera agita, grita
Vai pingando colírio nas retinas
De todos os homens do lugar
Olha lá
É Iemanjá, é Iansã
Sambando até de manhã, veja
Mas debaixo de toda essa beleza
Na alma da deusa o que será
Que ela sonha
Ela sonha o futuro das cidades
O meio ambiente, as liberdades
A utopia de Platão
Vai menina
Nesssa rotina
Sob a purpurina rima
O brasão de Descartes no estandarte
Engenho com arte e sedução
Quem vem lá
É Iemanjá, é Iansã
Sambando até de manhã, veja
Mas debaixo de toda essa beleza
Na alma da deusa o que será
Que ela sonha
Ela sonha o planeta, essa menina
Enquanto a cidade se ilumina
Enquanto pro povo tudo é…
Samba, menina
Que adrenalina
Samba menina…
X
AMERICANA
Maurício Maestro / Joyce Moreno
Bela América morena
cena de América nativa
voraz, audaz, capaz de ser quase tudo
feroz, depende de nós
Negra América sereia
veia de lira americana
canções, paixões, teus sons se espalham no mundo
e aqui circulam clandestinos
na música da noite
em sambas e blues
Louca América mestiça
missa na América romana
cruel, babel, teu céu nos cobre infinito
ao sul, sob os temporais
Bela América latina
sina de América cigana
virá, será, terá de ser mais bonito
bendito o fruto do futuro
na selva americana
é cedo demais
X
ANOS 30
Joyce Moreno / Paulo Cesar Pinheiro
Meu coração é do samba brasileiro
representante de alguma raça extinta
ele é um legítimo herdeiro
daquela gente distinta
do Rio de Janeiro dos anos trinta.
Meu coração não pisou nesse terreiro
mas pra gostar, basta só que a gente sinta
esse malandro inzoneiro
sestroso e boa-pinta
do Rio de Janeiro dos anos trinta.
Desde D. Pedro I
que o Chalaça trouxe o samba pro salão
no cancioneiro
o Brasil fez o samba virar sua tradução
foi essa gente de valor
aos pés de São Sebastião
que fez do samba a fina flor
dentro do nosso coração.
Meu coração agradece ao padroeiro
e pede ao santo também que ele consinta
que eu faça um samba altaneiro
bem carregado na tinta
do Rio de Janeiro dos anos trinta.
X
AQUELAS CANÇÕES EM MIM
Joyce Moreno
Que bom te rever, ao vivo e a cor
Sem ser pela tela de um computador
A gente se viu há um século atrás
A vida mudou, mas nunca é demais
Dizer que ainda guardo
Aquelas canções em mim
Aquelas canções
Pra sempre brotando em mim
Um copo de vinho, um bule de chá
A casa é modesta, mas pode chegar
Tem flor no canteiro, cachorro e sofá
Comida na mesa e o que precisar
Para alimentar
Aquelas canções em mim
Aquelas canções
Pra sempre acendendo em mim
Da última vez
Que o acaso nos aproximou
Eu não te liguei
E nem você telefonou
Mas de hoje eu já sei que não vai passar
Se a gente se esbarra em qualquer lugar
Na praia, na rua, em mesa de bar
Delete o meu nome do seu celular
E vem visitar
Aquelas canções em mim
Aquelas canções
Pra sempre nascendo em mim
X
BANANA
Joyce Moreno
Manga, caju, maracujá, sapoti
fruta de conde, jenipapo, graviola, açaí
jaca, pitanga, amora e abacaxi
ah, não há terra generosa como as terras daqui.
Banana de tudo que é feitio e feição
goiaba dentro é vermelha,
igual ao meu coração
é doce, é maduro, é triste, é meio arredio
meu coração dá de tudo, igual ao chão do Brasil.
Paca, tatu, cotia não, jabuti
tem sabiá, tem curió, uirapuru, juriti
bicho do mato, agora pode sair
é um tiro só, e a morte é doce como as frutas daqui.
Banana de tudo que é feitio e feição
goiaba dentro é vermelha, igual ao meu coração
é doce, é maduro, é triste, é meio arredio
meu coração dá de tudo, igual ao chão do Brasil.
X
BODAS DE VINIL
Joyce Moreno
Bodas de lã
Só vão até amanhã
Bodas de cetim
Não vão até o fim
Bodas de cristal
Não livram do mal
Bodas de papel
Não levam ao céu
Bodas digitais
São todas sempre iguais
Bodas de isopor
No computador
Bodas de verniz
São de outro país
Bodas de metal
São sempre o normal
Bodas de som
É como um sonho bom
Doido pra comemorar
Livre e tão bonito
Deixa o som
Ficar suspenso no infinito
Nunca se acabar
X
BESTEIRAS DE AMOR
Marcos Valle /Joyce Moreno
Amor da cabeça aos pés
é tudo que eu sou, ai ai
nas luas e nas marés
me chama que eu vou, ai ai
dispenso qualquer mil-réis
não vejo valor, ai ai ai
me fala no ouvido dez
besteiras de amor, ai ai
Se estamos no mesmo trem
a todo vapor, ai ai
se a vida sem ter um bem
tem menos sabor, ai ai
vem brincar comigo, vem
me faz um favor, ai ai ai
me fala no ouvido cem
besteiras de amor, ai ai
Fala da cor do mar
dentro do meu olhar
tanto lugar-comum
tão bom de se ouvir
fala pra me agradar
só pra me divertir...
Meu Deus, onde já se viu
é tanto calor, ai ai
só sabe quem já sentiu
na pele o suor, ai ai
aceleração sutil
ligando o motor, ai ai ai
me fala no ouvido mil
besteiras de amor, ai ai
X
A BANDA MALUCA
Joyce Moreno
A banda maluca
saiu da Tijuca
pra Copacabana
num fim de semana
e agora ninguém sabe
onde é que ela está
numa baiúca
metida em sinuca
tomando umas cana
chegando ao nirvana
naquela esquina
do lado de lá
Foi com certeza
pra Santa Teresa
sentou numa mesa
com a rapaziada, ficou ali
comendo empada e pastel
tem, salvo engano,
paulista e baiano
tem pernambucano
e até um fulano
da terra onde reside
Papai Noel
É boogie-woogie no Mangue
é carioca na contramão
samba na veia e no sangue
samba no pé da globalização
(it’s just a little bit crazy
it’s just a little bit crazy band)
X
BOIOU
Joyce Moreno
A lua cheia cor de tangerina
Na paisagem nordestina
Desenhada em papel
Espalha estrelas
Feito purpurina
Nos cabelos da menina
Vai boiando no céu
Boiou…
Vitória régia bóia na lagoa
Lá no alto a pipa voa
Flutuando no ar
Beira de rio, bóia uma canoa
Dentro dela uma pessoa
Que não sabe nadar
Boiou…
Tem tanta coisa que flutua
Flor, canoa, lua
Pipa e outras coisas assim
Também tem gente nesse mundo
Que não vai no fundo
Nunca chega até o fim…
Boiou….
Você pensava que sabia tudo
Toda a forma e o conteúdo
Tudo o que já passou
E agora sabe é que não sabe nada
Foi bater na porta errada
Nada entende de amor
Boiou…
X
BOTA DE SETE LÉGUAS
Joyce Moreno
Você já não me pega, já não me pega
cai no meu colo e depois me nega
depois me nega
me dá uma luz e depois me cega
depois me cega
cada mentira que você prega
que você prega
a boca fala e o teu olho entrega
sempre teu olho entrega
escorrega, cai na lama, chama até me derreter
Mas você já não me pega, já não me pega
não sou de ferro, caro colega
caro colega
meu coração tá ficando brega
ficando brega
mas a cabeça é quem me navega
é quem me navega
e a minha bota de sete léguas
bota de sete léguas
me carrega pra diante, me garante de você
X
CARTOMANTE
Joyce Moreno / Rodolfo Stroeter
Se você quiser saber sua sorte
pede à cartomante pra ver
ela lê seu mapa, ela sabe o chacra
ela é seu destino em você
ela sabe o norte
você sabe, a morte
todo mundo tem que aprender
se você quiser ver o que te aguarda
pede à cartomante
um instante pra ver
Se você quiser saber sua sina
olhe a cartomante em você
ela te anima, ânima divina
ela pode bem te entender
ela sabe o mito
ela sabe o rito
pois no fundo, ela é você
lá no poço escuro onde nasce tudo
olha a cartomante
um instante, em você
No quintal da alma
ela te acalma
pode iluminar a sombra
pode te trazer à tona
Se você quiser a vida em um segundo
pede à cartomante pra ler
ela mora bem dentro do seu mundo
ela é seu ouvido em você
ela assina embaixo, ela raspa o tacho
é a intuição em você
ela é só perfume, ela é só negrume
mostra a cartomante
um instante, pra eu ver
X
CAYMMI VISITA TOM
Joyce Moreno
Caymmi visita Tom
Os dois são homens do mar
A onda se ergueu
O tempo virou
A praia pode esperar
Navio na Codajás
Coqueiro em Itapoã
A onda se ergueu
A terra tremeu
Foi samba até de manhã
Um homem adormeceu
Sonhou com as terras de lá
Fez sua cama de rei
No colo de Iemanjá
Caymmi visita Tom
Jangada saiu pro mar
A onda se ergueu
A noite envolveu
O tempo mandou buscar
X
CINEMA BRASIL
Francis Hime / Joyce Moreno
Linda, que a tela era linda
e eu me lembro ainda do filme que vi
que tinha Eliana, Oscarito
Otelo, Adelaide, Cyl Farney, Dercy
canções, carnavais e cassinos
ambientes tão finos, humor infantil
e uma geração de meninos
amou para sempre o Cinema Brasil
Ginga de Orfeu lá no alto
no morro, no asfalto, a quarenta graus
no mar, no sertão, na verdade
na grande cidade, na lama e no caos
pois quando o cinema era novo
falava do povo, falava por nós
e uma juventude guerreira
levou a bandeira com seu porta-voz
Linda, que Leila era linda
todas as mulheres do mundo dirão
foi Dina com Macunaíma
foi Márcia em Ipanema abrindo o verão
foi gloriosa Darlene
querendo vingança aos santos clamar
ou foi Adriana tão cedo
que o dono do enredo mandou lhe chamar
Linda, que a tela era linda
e eu me lembro ainda do filme que vi
sacana, o malandro Carvana
descola uma grana e sai por aí
meu filme prossegue infinito
no eterno conflito entre os que vêm e vão
e o emblema da última cena é Fernanda serena,
que escreve uma carta
que sonha que é santa
que cata feijão
Mina Fernanda divina
que a tela ilumina
de pura invenção
Linda, que a tela é tão linda
e é mais linda ainda na imaginação
Linda, que a tela é tão linda
e assim será sempre na nossa paixão.
X
CÍNICA
Ivan Lins / Joyce Moreno
De tanto que calei, perdi a voz
de tanto que esperei, olhei pra nós
olhei, mas não me vi,
parece que sonhei
parece que sumi
_ parece que fiquei mais mínima.
De tanto que chorei, o olhar secou
de tanto que te amei, o amor cansou
e sem voltar atrás
até me achei capaz
de decisões finais
_ parece até que fui a única.
Na primeira hora, não foi fácil
era tanta falta de você
era uma saudade misturada
de tudo, de nada...
De tanto te esquecer, me renovei
de tanto te perder, já me encontrei
de tanto que parti,
parece que cheguei
parece que aprendi
_ parece que fiquei mais cínica.
X
O CHINÊS E A BICICLETA
Joyce Moreno
Como o chinês e a bicicleta
como Cartola e dona Zica
como a paisagem e o cartão postal
como Romeu e Julieta
catupiri com goiabada
como quem fica junto no final
como o navio e o marinheiro
como uma fronha e um travesseiro
como uma flor e seu perfume
como o sorvete e a cobertura
não como um quadro na moldura
mas como coisa que completa
como uma curva e uma reta
como o tesão e ternura
como o chinês e a bicicleta
X
CHUVISCO
Joyce Moreno
Chuva miúda, chuva que não faz calor
chuva preguiçosa, chuva lavadeira
chuva molhando direitinho o meu amor
chuva majestosa sobre a Mantiqueira
chuva de são Pedro, santa Clara luminosa
chuva gloriosa, chuva parideira
chuva iniciando, chuva boa, generosa
chuva gostosa, chuva rasteira
Mas chuva grossa quando vem causa temor
chuva perigosa, chuva traiçoeira
chuva levando tudo o que tem de valor
chuva caprichosa, chuva da ribeira
chuva respondendo, nunca mais silenciosa
chuva caudalosa feito cachoeira
chuva carregando rua, gente, casa, roça
tudo o que possa, pra ribanceira
Nem mal nem bem
igual de qualquer maneira
já foi, já vem
outra chuva na dianteira
X
CLAREANA
Joyce Moreno / Maurício Maestro
Um coração
de mel, de melão
de sim e de não
é feito um bichinho
no sol de manhã
novelo de lã
no ventre da mãe
bate o coração
de Clara, Ana
e quem mais chegar
água, terra, fogo e ar
X
CLAUDE ET MAURICE
Joyce Moreno
Vem o sol caindo devagar
Mergulha e morre num mar de Debussy
No azul do mar
Cores suntuosas de Renoir
Mulheres, barcos, seios nus
Pontilham o ar
Sons misteriosos de Ravel
Um céu que abriga e nos protege no chão
Azul-limão
Cores luminosas de Monet
Feito amapolas num jardim
Eu e você
Fotografo meu coração
Ouço as cores e vejo os sons
Desses mares e céus assim
Seus azuis a maravilhar
E a beleza gravada
Pra sempre em mim
X
COMPOSITOR
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Compositor, compositor
mas como é que vive o compositor?
Sem ser showman, sem ser cantor
será que ele paga o lugar que alugou?
será que tem outra função
e faz sua música se faz serão,
será que não?
será que dá pra dar pensão
quando ele brigar com o amor que inspirou a canção?
Compositor, compositor
mas como é que vive o compositor?
que é que vai ser no fim do mês
se ninguém gravar a canção que ele fez?
E se gravar, não leve a mal,
não dá pra viver de direito autoral
compositor
tem muito sócio, sim senhor
Ecad, sociedade, leão, gravadora, editor
Ave Maria, mamãe dizia
meu filho, por favor
siga o disposto, não dê o desgosto
de ser compositor
acho que não adiantou
quem anda na chuva já se molhou
e até gostou
quem vive só do seu valor
sabe da pedreira que é ser um compositor
Quanta vaidade, que veleidade
ser compositor
quanta vontade na flor da idade
de ser compositor
se dá bloqueio de criação?
autor brasileiro não tem disso não
compositor
só se levar no bom-humor
pior que todo o mundo também quer ser compositor!
Compositor...
todo o mundo quer ser compositor…
X
COMPOR
Joyce Moreno
Cada ideia que vem já vem partida
Entre a ideia de ouvir e a de fazer
Cada música nova é divertida
Até quando começa a me doer
Mas parece que é coisa decidida
Eu não sei por que tem de ser assim
Cada uma palavra é a minha vida
Cada acorde é um pedaço de mim
X
CRIANÇA
Joyce Moreno
Criança
não me zango com você
porque você não tem sustança
você não sabe o que faz
e quanto mais se faz, se dança
pra que vou me aborrecer
perder meu tempo com cobrança
por gostar de uma criança?
Relaxe,
não sou eu quem vai tentar corrigir você
pena é saber
que te falta a sutileza pra perceber
que cansa
que maltrata um coração
que já não tem tanta esperança
pra investir numa criança.
X
DA COR BRASILEIRA
Joyce Moreno / Ana Terra
De quem falo, me acha direita
se casa comigo, se rola e se deita
me namora quando não devia
e quando eu queria, me deixa na mesa
de quem falo, me fala macio
e finge que entende o que nem escutou
me adora e me quer tão-somente
enquanto o que mente é o que acreditou
Esse homem que passa na rua
que encontro na festa e me vira a cabeça
é aquele que me quer só sua
e ao mesmo tempo, que eu seja mais uma
de quem falo, ele é feio e bonito
mais velho e menino, meu melhor amigo
é o homem da cor brasileira
a loucura, a besteira
que dorme comigo
X
DAQUI
Joyce Moreno / Rodolfo Stroeter
De lá não há lugar
Mais longe que aqui
Daqui não há lugar
Mais perto de si
Daqui
De lá
De lá
Pra cá
De lá pra si
De si pra lá
Daqui
De lá
De lá
Pra cá
De lá pra si
Daqui
X
DELICADEZA
Joyce Moreno
Discreta em companhia de gente esquisita
maldita em ambiente de gente normal
plantando coisas belas num circo de horrores
com flores e bombons no Juízo Final
pintando aquarelas em terra de cego
com pregos, paus e pedras e más intenções
se por delicadeza eu oculto o meu ego
me nego a ser princesa num reino de anões
Bordando sutilezas e finas malícias
delícias num país que não tem paladar
o coração partido de tanta falácia
que passa e a gente nem pode se desviar
sonhando ainda um tempo menos suicida
que diga pra que veio e que possa provar
se por delicadeza eu perder minha vida
saí mesmo à francesa, queira desculpar
X
DEMORÔ
Joyce Moreno
Raiou
Um dia comprido de muito esperar
Raiou, iluminou
A moça de branco na beira do mar
Brincou
No embalo das ondas até se cansar
Pisou
Na areia da praia pisou devagar
Ventou
O sol se escondeu, fez o tempo mudar
Choveu e ela deixou
A chuva escorrer e o vestido molhar
Chorou
Chorou de tristeza, chorou sem parar
Falou
Contou sua história pro povo escutar
Cantou
A sua cantiga com todo cuidado
Jurou
Que o sol escondido era o seu namorado
Eu tava esperando e o meu bem demorou
Meu bem demorou, demorou pra chegar
O sol foi voltando e o mar serenou
Ela então festejou
Salve o povo do mar
X
DEU NO QUE DEU
Joyce Moreno / Luis Tatit
Depois que o mar
Virou sertão
E este lugar surgiu
Não há quem não
Dissesse então
“Só mesmo no Brasil”
Luar no céu
E aqui no chão
Os dois: você e eu
Não há ó gente
Oh não paixão
Como essa que nasceu
E pra você
Ser tão feliz
Foi só chegar ao mar
Eu já sou do mar
Mas sempre quis
Enredos e segredos
Do agreste do país
E quando escureceu
E o luar
Clareou você
E eu
Nenhum de nós
Mais duvidou
Que desse no que deu
E deu!
X
DEUS E O DIABO (NA DANÇA DO BAIÃO)
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Mandacaru, xique-xique, facheiro
Baião de dois, dança de cangaceiro _ ê, baião
Chapéu de couro, gibão, cartucheira
Faca, punhal, parabelo e peixeira _ ê, baião
Sol de braseiro, faísca e centelha
Vento de fogo, poeira vermelha
Poço e cacimba de água barrenta
Homem, criança e mulher bexiguenta
Maleita, calor, fome e peste
Sina maldita do chão do Nordeste _ ê, baião
Pele e carcaça de bicho caído
Gente comendo de cobra de vidro _ ê, baião
Pedra , cascalho, graveto, espinheiro
Povo rodando no pó do terreiro
Festa sem fim no forró do sertão
Deus e o diabo na dança do baião.
Olha a zabumba com o filho do capeta
E a viola no peito do cristão
O porteiro do inferno na caixeta
E no fole o padim Ciço Romão
Olha um anjo batendo na sineta
E o triângulo no dedo do Cão
E girando que nem dois carrapeta
Maria Bonita e Lampião
E quem escuta vem chegando feito Dominguinho
E do lado, Oswaldinho do Acordeon
E o Quinteto Violado com Sivuca e Hermeto
Pra ficar tudo certo, pra ser tudo bom
Duvido nada que na hora chegue Gordurinha
E o pandeiro de Jackson, pelo salão
Deus e o diabo batem palma quando chega ele
É Luiz Gonzaga, é o Lua, é o rei do baião.
Festa sem fim no forró do sertão
Deus e o diabo na dança do baião!
X
DIZ QUE EU TAMBÉM FUI POR AÍ
Joyce Moreno
Fica por aí
contando histórias
que eu não sei se quero acreditar
Mente por aí
exagerando, se fazendo popular
Brinca por aí
deixando a gente sem saber
se vai voltar ou não
Some por aí
desafiando minha imaginação
Dança por aí
troca de par a cada vez
sem perceber sequer
que ao se dividir
vai agulhando meu orgulho de mulher
Chega por aqui
com a cara sonsa de quem vem
cheio de amor pra dar
passa ano que vem
diz que eu também fui por aí
pra variar...
X
DOMINGO DE MANHÃ
Joyce Moreno
Acorda a madrugada
Já vem solta a passarada
Alarido, barulhada, já é
De ontem pra amanhã
O sol vem pela fresta
Zera tudo o que não presta
E a matina desembesta, pois é
Domingo de manhã
Lá fora, quantas ilhas
O alvoroço das famílias
Terremotos, armadilhas no ar
E a alma quase sã
Segunda recomeça
Nossa vida, nossa pressa
Tudo agora é só promessa, pois é
Domingo de manhã
X
DOR DE AMOR É ÁGUA
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Dor de amor é água, água de mar é sal
sal de mar é mágoa, mágoa de amor é igual
Quando o amor desfaz a teia,
a água do choro é natural
quando o mar faz maré cheia
é o pranto do mar que dá sinal
quem sofreu que não se zangue
que a água do olhar vira cristal
feito o mar, que chora sangue
e a mágoa do mar vira coral...
Dor de amor é água, água de mar é sal
sal de mar é mágoa, mágoa de amor é igual
Quando a dor de amor ataca
é o choro que encara o seu algoz
feito o mar, que na ressaca
a mágoa enfurece a sua voz
mas a dor não tem perigo
porque um outro amor vem logo após pois o mar, que é mais antigo,
carrega com a dor de todos nós...
X
... E ERA COPACABANA
Joyce Moreno / Carlos Lyra
Noites febris
Tempos gentis
Eu já fui tão feliz
Mais do que eu quis
Mais que eu pude querer
E era Copacabana
Loucas paixões
Tantas canções
Eu já tive ilusões
Momentos bons
Hoje com meus botões
Penso que nada mais me engana
Foi num tempo em que era tudo demais
Tempos atrás
Quimera fugaz
Sonhos de paz e promessas banais
Mera fumaça que a vida desfaz
Igual a um puro havana
Caminhando pelas ruas assim
Dentro de mim
Nem penso ao que vim
Penso que a vida nem sempre é ruim
É só o enredo de um mau folhetim
A vida é simplesmente humana
X
ESSA MULHER
Joyce Moreno / Ana Terra
De manhã cedo, essa senhora se conforma
bota a mesa, tira o pó
lava a roupa, seca os olhos
ah, como essa santa não se esquece
de pedir pelas mulheres
pelos filhos, pelo pão
depois sorri meio sem graça e abraça
aquele homem, aquele mundo
que a faz assim feliz
De tardezinha, essa menina se namora
se enfeita, se decora
sabe tudo, não faz mal
ah, como essa coisa é tão bonita
ser cantora, ser artista
isso tudo é muito bom
e chora tanto de prazer e de agonia
de algum dia, qualquer dia
entender de ser feliz
De madrugada essa mulher faz tanto estrago
tira a roupa, faz a cama
vira a mesa, seca o bar
ah, como essa louca se esquece
quantos homens enlouquece
nessa boca. nesse chão
depois parece que acha graça
e agradece ao destino
aquilo tudo que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
em quem esbarro a toda hora
num espelho casual
é feita de sombra e tanta luz
de tanta lama e tanta cruz
qie acha tudo natural...
X
ESTRELA DE OXUM
Joyce Moreno / Rodolfo Stroeter
Bandeira, pião, bandeira
estrela da vida inteira
mucama da saia grande
saiu pra cantar
A voz ecoou brejeira
na mata, na cachoeira
a noite foi abraçando
o véu do luar
No chão de areia branquinha
pisada pequenininha
o canto da ribeirinha
fez tudo acordar
Oxum despertou sorrindo
gostou do que estava ouvindo
cantou seu canto mais lindo
brincando de acompanhar
Bandeira, pião, bandeira
cansada da brincadeira
estrela de Oxum faceira
dormiu de tanto cantar.
Maracatu, oiô, mandou chamar...
X
E VAMOS LÁ
Joyce Moreno / João Donato
Ah, já mandei encomendar nosso cantinho
um lugar só pra nós dois, bem no jeitinho
tão bonito, com janelas para o mar
Já fiz meu rancho lá na beira do caminho
numa estrada onde tem tanto passarinho
que eu nem sei se é bem-te-vi ou sabiá
Lá, quando a noite for chegando de mansinho,
vá preparando nossa rede com carinho
Ah, vai ser bom quando chegar a primavera
nos dizendo que afinal valeu a espera
deixa o tempo sem vontade de passar
e vamos lá...
X
FEMININA
Joyce Moreno
Ô mãe, me explica, me ensina
me diz, o que é feminina?
Não é no cabelo ou no dengo ou no olhar
é ser menina por todo lugar
Ô mãe, então me ilumina
me diz, como é que termina?
Termina na hora de recomeçar
dobra uma esquina, no mesmo lugar
Costura o fio da vida só pra poder cortar
depois se larga no mundo
pra nunca mais voltar
Ô mãe......................................
Prepara e bota na mesa com todo paladar
depois acende outro fogo
deixa tudo queimar
Ô mãe.......................................
e esse mistério estará sempre lá
feminina, menina, por todo lugar
X
FORÇAS D'ALMA
Joyce Moreno
O luar lá de Luanda
manda festejar
mães de santo
perfumadas filhas de Iemanjá
nostalgia de outro mar, Bahia
Pernambuco, vozes d’África
forças d’alma que vêm de tão longe
de além-mar
Clementina vem
pra me abençoar
toda em rendas brancas
na linha do mar
mãe de todos nós
dona do lugar
reina majestosa
feito um orixá
Yaôs de Pixinguinha
doidas pra rodar
o batuque na cozinha
os dengos de iaiá
na Serrinha e na Mangueira, as tias
são mucamas e baianas lá
forças d’alma que vêm de tão longe
de além-mar
Clementina vem
pra me abençoar
toda em rendas brancas
na linha do mar
mãe de todos nós
dona do lugar
reina majestosa
feito um orixá
X
GALÃ TANTÃ
Joyce Moreno / Silvia Sangirardi
Eu com vestido verde hortelã
perdida em seus olhos de xamã
de deslumbrante cor de avelã
pra me aquecerem, feito astracã
mas pra que me cobrir de lã
se cá não ardo em febre terçã?
me seduzindo assim como um fã
com fala mansa, cantada chã
pra um passeio no seu Sedan
e ver um filme de Jean Gabin
me convidou para um coq-au-vin
que encomendou lá no Bec Fin
ir a Paris pra dançar can-can
já perfumada com L’Air du Temps
ganhar diamantes de Amsterdam
propõe me dar o Maracanã
ou mesmo uma tela de Rembrandt
quem sabe, O Pensador de Rodin?
depois, me deita no seu divã
_ e se deixarmos para amanhã?
sempre fui uma
cidad
sem grandes dotes pra cortesã
gomalinado, lentes rayban,
quer me arrastar para Itapoã
para armarmos algum pandã
me olha, qual um Arséne Lupin
quer que eu desfile na campeã
com buginganga, balangandã
só de tanga, feito cunhã
de braço dado com Paiacã
num carnaval que é made in Taiwan
lá tenho cara de foliã?
é ele, a serpente da maçã
numa maluca dança pagã
não vou fazer parte desse clã
prefiro a vida de ermitã
me rebaixou pra mulher meã
diz que no amor, sou como marchand
meu coração é de marzipan
só falta mesmo gritar Shazam
diz que o meu tempo é o de Lacan
pareço governanta alemã
sou um ET de Aldebarã
saio da história como vilã
sigo meu rumo, não perco o élan
dou um sorriso de pôr no écran
já pego logo o meu talismã
pra proteger o meu Atmã
e com a benção de Iansã
prossigo firme no meu afã
de não tirar o meu sutiã
e o meu vestido verde hortelã.
(até amanhã, galã tantã...)
X
GAROTO
Joyce Moreno
Cresci ouvindo Garoto
Tocado por meu irmão
Naquele tempo lá em casa
Não tinha televisão, não
O som que havia era outro
Garoto e seu violão
Tudo ficava moderno
Do choro ao samba-canção
Ouvindo o Trio Surdina
E depois dele, Bonfá
O som que me embalou desde menina
Traçou minha sina e me fez tocar
Quando depois chegou João
E tudo se confirmou
Mesmo o acorde mais raro
Soava tão claro
Depois de Garoto
X
HAVANA-ME
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Havana-me
não esqueço teu povo em momento algum
cubana-me
me convida a dançar, quebra o meu jejum
serena-me
me lambuza de cana, tabaco e rum, havana-me
Havana-me
bota uma cubalibre, limão e sal
cubana-me
me carrega em teu ritmo sensual
irmana-me
nossa música tem sangue tropical, havana-me
Tira-me pra bailar,
quero ouvir teu som caribenho
por ti, mestiço, eu tenho amor
me pega pelo quadril
teu par ainda é o Brasil, havana-me
X
ILHA BRASIL
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Brasil, terra das maravilhas
tinha tanta ilusão, era um povo aprendiz
que fizeram com o Brasil?
traições, armadilhas,
hoje o seu coração, como tem cicatriz
Brasil, o que foi que te aconteceu
que eu só vejo chorar cada um filho teu?
Brasil, o que foi que te entristeceu?
Eu não quero chorar
mas teu canto é o meu.
Eu sou teu trovador
sou o teu sabiá
deixa eu cantar a dor
pra ninguém mais chorar
Brasil
que já foi uma ilha
era um tempo de paz
tinha um povo feliz
hoje há medo no Brasil
minha mãe, minha filha
tem perigos demais dentro do meu país
Brasil, o que foi que te aconteceu
que eu só vejo chorar cada um filho teu?
Brasil é um gigante que adormeceu
e é preciso acordar
que a ilusão não morreu
Se todo trovador
um dia se juntar
toda serpente vai
fugir do sabiá.
X
JUPARANÃ
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Juparanã, aldeia, brejal
Juparanã, paul, pantanal
Juparanã, nação de igarapé
chão de curimatã
jazida do pajé, da muiraquitã
juparanã, juparanã, juparanã
Juparanã, o boto é de lá
tem sucuri, pacu, tracajá
tem tucumã, imbira, mussambê
ingá, pariatã
sagüi, juruetê
arara, mussuã
juparanã, juparanã, juparanã
Tem jacumã, ubá
bom de atravessar os igapós
eu vou pescar
ê, juparanã
Tem peixe boitatá
iara mora lá nos aguapés
vem me ajudar
ê, juparanã
X
LAMARCA NA GAFIEIRA
Joyce Moreno / Silvia Sangirardi
Bom mesmo, meu capitão
era te encontrar na rua
e te dar uma canseira
pra relaxar a tensão
num samba rodopiando
te sigo por onde for
com Paulo Moura arrasando
fervendo na domingueira
lá do Circo Voador.
X
ME DISSERAM
Joyce Moreno
Já me disseram
Que meu homem não me ama
Me contaram que tem fama
De fazer mulher chorar
E me informaram
Que ele é da boemia
Chega em casa todo dia
Bem depois do sol raiar
Só eu sei
Que ele gosta de carinho
Que não quer ficar sózinho
Que tem medo de se dar
Só eu sei
Que no fundo ele é criança
E é em mim que ele descansa
Quando pára pra pensar
Já me disseram
Que ele é louco e vagabundo
Que pertence a todo mundo
Que não vai mudar pra mim
E me avisaram
Que quem nasce desse jeito
Com canção dentro do peito
É boêmio até o fim
Só eu sei
Que ele é isso e mais um pouco
Pode ser que seja louco
Mas é louco só no amor
Só eu sei
Quando o amor vira cansaço
Ele vem pro meu abraço
E eu vou pra onde ele for
X
MEIO A MEIO
Joyce Moreno
Oh, venha me aprender
ser tudo o que eu já sou
fazer o que eu faço
no mesmo espaço em que você me achou
cuidar do nosso lar, criar os bacuris
botar cama e mesa, mas que beleza
venha ser feliz
Por mim, já sei fazer
o seu papel de cor
já ganho o pão nosso de cada dia
com o meu suor
tão bem quanto você, criei palavra e som
me empreste essa força, fale e me ouça
vem que vai ser bom
Vai ser bom, vai ser bom
vai ser meio a meio
vai ter muito bloqueio
mas quem viver, verá
que vai ser bom, vai ser bom
vai ser cara a cara
vai ter muito mais barra
mas dá pra segurar
Não fuja mais de mim
esqueça a tradição
não tenha vergonha, seja o que sonha
solte essa emoção
pois se eu já consegui, você conseguirá
um dia, sem medo
você, meu nego, vai se liberar
X
MISTÉRIOS
Joyce Moreno / Maurício Maestro
Um fogo queimou dentro de mim
Que não tem mais jeito de se apagar
Nem mesmo com toda a água do mar
Preciso aprender os mistérios do fogo
Pra te incendiar
Um rio passou dentro de mim
Que eu não tive jeito de atravessar
Preciso um navio pra me levar
Preciso aprender os mistérios do rio
Pra te navegar
Vida breve
Natureza
Quem mandou, coração
Um vento bateu dentro de mim
Que eu não tive jeito de segurar
A vida passou pra me carregar
Preciso aprender os mistérios do mundo
Pra te ensinar
X
MONSIEUR BINOT
Joyce Moreno
Olha aí, monsieur Binot
Aprendi tudo o que você me ensinou
Respirar bem fundo e devagar
Que a energia tá no ar
Olha aí, meu professor
Também no ar é que a gente encontra o som
E num som se pode viajar
E aproveitar tudo o que é bom
Bom é não fumar
Beber só pelo paladar
Comer de tudo o que for bem natural
E só fazer muito amor
Que amor não faz mal
Então olha aí, monsieur Binot
Melhor ainda é o barato interior
O que dá maior satisfacão
É a cabeça da gente
A plenitude da mente
A claridade da razão
E o resto nunca se espera
O resto é a próxima esfera
O resto é outra encarnação…
X
MORENA BOSSA-NOVA
Joyce Moreno
Morena bossa-nova
aterrisou no baile
saltou de pára-quedas
caiu no hully-gully
voou numa asa delta
até pousar em Bali
subiu na passarela
e agora só dá ela no Rio
Morena carioca
flanando na Paulista
sambando na Avenida
engarrafando a pista
entrando numa fria
saindo na revista
garota de Ipanema da gema
emblema do meu Brasil
Morena bossa-nova
caiu no hully-gully
sambando na Paulista
engarrafando o baile
flanando na avenida
pousou na passarela
e agora só dá ela
a mais bela tradução do Brasil
Morena carioca da gema
emblema do meu Brasil
X
MORENO
Joyce Moreno
Tutty Moreno conhece todos os ritmos
Principalmente o ritmo da natureza
Água de rio, água de chuva molhando o chão
Naturalmente as batidas do coração
Que é justamente onde nascem todas as músicas
E onde se esconde o mundo num giro sereno:
Na pulsação do corpo de Tutty Moreno
A água corre e lava de toda a loucura
O fogo ardendo vai preparando a mistura
O vento sopra tua ferida e te cura
O chão de acalma, o chão te recebe e segura
E é disso tudo que nascem todas as músicas
E se repete a vida num giro sereno:
Na pulsação do corpo de Tutty Moreno
X
MULHERES DO BRASIL
Joyce Moreno
No tempo em que a maçã foi inventada
antes da pólvora, da roda e do jornal
a mulher passou a ser culpada
pelos deslizes do pecado original
guardiã de todas as virtudes
santas e megeras, pecadoras e donzelas
filhas de Maria ou deusas lá de Hollywood
são irmãs, porque a mãe natureza
fez todas tão belas, tão belas
Ó mãe, ó mãe, ó mãe, nossa mãe
abre teu colo generoso
parir, gerar, criar e provar
nosso destino valoroso
são donas de casa, professoras, bailarinas
moças operárias, prostitutas meninas
lá do breu das brumas vem chegando a bandeira
saúda o povo e pede passagem a mulher brasileira!
X
NA CASA DO VILLA
Joyce Moreno
Na casa do Villa era uma zona
diz a lenda com razão
com rádio, com novela e com vitrola
atrapalhando a criação
nem por isso o digno maestro
alguma vez se perturbou
o ouvido de dentro é o que importa
e isso foi ele que ensinou
Na casa do Vina era uma festa
como na casa do Tom
com música, parceiros, namoradas
desde a Gávea até o Leblon
nem por isso o mestre ou o poeta
desistiam das canções
o ouvido de dentro é o que importa
e nisso é que eles eram bons
Hoje em minha casa tem criança,
cachorro e televisão
tem gente aqui chegando de viagem
também tem gente que não
nem por isso a música me larga
triste, sem inspiração
o ouvido de dentro é o que importa
então eu fiz essa canção
X
NA PAZ
Joyce Moreno
Que bom
que bem
que faz
o som
feliz
da paz
talvez
fugaz
veloz
demais
mas lá
no céu do Brasil
Dizer
possa
um rapaz
tô bem
tô zen
tô mais
deixar
pra trás
os litorais
brilhar
Cruzeiro do Sul
no azul...
X
NARA
Joyce Moreno / Roberto Menescal
Paira
a lua tonta sobre o mar do Leme
e estende gentilmente as asas pálidas
anunciando que já está na hora
Chora
Copacabana em luzes imprecisas
delicadezas piscam feito lágrimas
brilhando mansamente à luz da aurora
Na paisagem de Nara
há músicas de todos os matizes
nas cores de Nara
o Rio amanhecendo em mil canções
nas manhãs de Nara
recordações de tempos tão felizes
os sonhos
que alimentaram nossas gerações
ô, Nara
mil sambas, mil poetas te bendizem
e ecoam de Ipanema às margens plácidas
iluminando o céu da Guanabara.
X
NEGUINHO DO PASTOREIO
Joyce Moreno / Silvia Sangirardi
Neguinho do pastoreio
acha o meu amor pra mim
ou corto seu devaneio
com a nega do pixaim
não adianta me olhar feio
não posso viver assim
minha vida está no meio
e parece que está no fim
senão, escrevo e não leio
te transformo em querubim
meu nego do pastoreio
acha o meu amor pra mim.
X
NOVELO
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Cortei um pedaço de vento
enrolei num novelo
tirei uma fita,
prendi meu cabelo
pra no travesseiro
meu bem desatar
Depois desfiei uma nuvem
fiz uma camisa
bordei o decote
com um resto de brisa
mostrando meu seio
pra te convidar.
De água do mar e de espuma
moldei uma saia
fiz barra e cintura
da areia da praia
pra ficar mais fácil
meu bem desmanchar
Na rede do quarto crescente
da lua vadia
o amor que faremos,
meu bem, todo dia
nem a poesia pode imaginar
X
OS MEDOS
Joyce Moreno / Rodolfo Stroeter
Medo de sair, medo de ficar
medo de ir longe demais
medo de jogar, medo de apostar
medo de não ter medo mais
medo de ganhar, medo de perder
medo de querer ser feliz
e poder
Medo de esquecer, se comprometer
medo de encarar e fazer
medo de mulher, medo de avião
medo de ter toda razão
medo de chegar, medo de partir
medo de querer ser feliz
e conseguir
(bridge instrumental)
Medo de negar, medo de aceitar
de sair na chuva e molhar
de não ter vintém, de não ser ninguém
medo de se dar muito bem
medo de vencer, medo de arrasar
medo de ser muito feliz
e pirar...
(bridge - canto falado)
Medo de viver, medo de falar
de se recolher e calar
de escuridão, de se arrepiar
medo de parar pra pensar
medo de trovão, de agitação
medo de sair por aí
e agir
De se descobrir ou de se afirmar
medo de talvez consentir
de prevalecer, de se dividir
medo de subir e cair
de dissimular, de não se agüentar
medo de ser muito feliz
e pirar...
X
OUTRAS MULHERES
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Meu corpo é pedra em que nascem
Corais, sargaços e líquen
Que os homens todos me abracem
Só quero aqueles que passem
Não quero aqueles que fiquem
Gosto, meu bem, de andar nua
Me pinto feito arco-íris
Jamais me tires da rua
Porque jamais serei tua
Se tu não me repartires
Senti paixão por um bando
Escorreguei como os peixes
Por isso eu peço que quando
Sentires que já estou te amando
Eu quero é que tu me deixes
Sou de ceder minhas graças
Não sou aquela que queres
Pertenço ao rol das devassas
Não quero que tu me faças
Igual às outras mulheres
X
PEGA LEVE
Joyce Moreno
Entrei no camarim
tinha um DJ
sampleando meu samba atrás de mim
deixei o som rolar
e até gostei
da moçada dançando sem parar
Vi gays, muitos casais
vi japonês, Bossa Três, drum-and-bass
e muito mais
um jazz-maracatu
Thelonious Monk com Hermeto
direto de Bangu
Parei, olhei pro salão
notei num minuto
o estatuto mudou, meu irmão
na gafieira moderna
olha o vexame, pega leve
o ambiente exige uma breve explicação
(ou não, ou não)
então... entrei no camarim
X
PURO OURO
Joyce Moreno
O samba é só magia, é puro ouro
Cada vez mais é o tesouro
Da juventude morena
O samba é perdição que vale a pena
Não há quem perca o decoro
Se a alma não é pequena
Quem sabe, samba mesmo
Quem não sabe ouve o refrão
O samba ganha o mundo
Faz uma revolução
Sacode essa poeira
Tira o mofo do salão
O samba olha o futuro
Mesmo aos pés da tradição
Por isso vem pro samba, mocidade
Pode ficar à vontade
Chega, incendeia e provoca
O samba é um privilégio pra quem toca
Brota no chão da cidade
Mostra o seu dom carioca
X
POVO DAS ESTRELAS
Joyce Moreno
Deixa a nave pousar, ê
deixa a nave descer
chama o povo de lá, ê
que eu quero conhecer
Gente de outro planeta, igual a mim
com a cabeça na mesma direção
gente que também quer, também tá a fim
de ver gente de outra constelação
será que lá tem guerra, que nem na Terra
ou se faz só música
nem precisa falar?
Será que lá tem festa
será que presta, será que é ótimo?
Só tem um jeito de desvendar
_ deixa a nave pousar!
Deixa a nave descer
chama o povo de lá
que eu quero conhecer
Chama o povo de Vega, mas também
chama o povo que vem de Aldebarã
cada estrela que brilha também tem
uma história, uma tribo, um talismã
será que é mais bonito, será esquisito
será que é mágico?
Quem me dera ir pra lá!
Mas na minha janela, uma noite bela
uma nuvem rápida
nem dá jeito da gente falar
_ deixa a nave pousar!
Deixa a nave descer
chama o povo de lá
que eu quero conhecer
X
PROSSIGA
Joyce Moreno / João Donato
Diga
prossiga
siga perto de mim
Ache
relaxe
mesmo que eu me afaste
diga que sim
Tarde
bem cedo
não tenha medo de tanta paixão
doce
que arde
que queima, mas teima
Então me procure
costure
cure meu coração
Diga
prossiga
então me siga
não diga não.
X
RADIO CABEÇA
Joyce Moreno
A rádio na cabeça toca sem querer
A música que mora dentro de você
O som descontrolado de qualquer canção
A música do momento ou de outra encarnação
A rádio na cabeça pode enlouquecer
Te acorda de madrugada e não quer nem saber, ê
Invade impertinente a mente do freguês
Ou chega e se insinua um pouco a cada vez
Com sambas, calangos, tangos, bossas-novas, jazz
Com valsas, sinfonias e outros carnavais
A rádio na cabeça quer tocar sempre mais
A rádio na cabeça toca sem parar
A trilha do dia-a-dia pra te acompanhar
Esgota a paciencia de qualquer cristão
Mas pode também ser sonho ou alucinação
Te leva ao paraíso, ela promove a paz
Ou toca até se dizer que não se agüenta mais, ê
As vezes manda um som que a gente nem pediu
A rádio na cabeça pode ser sutil
Tem mambos, rumbas, rocks, choros e forrós
Lentíssimos blues, bebops em versão veloz
A rádio é aleatória como a vida é pra nós
X
RANCHO DA NOITE
Joyce Moreno / PC Pinheiro
A porta-estandarte do rancho da noite
é a lua, é a lua
que chega girando a bandeira de estrelas
no meio da rua
Bordaram as roupas do rancho da noite
de prata e de azul
com as Tres Marias, a Estrela Dalva
e o Cruzeiro do Sul
Lá vem as pastoras do rancho da noite
dançando ciranda
e seus namorados com seus violões
vêm cantar na varanda
A porta-bandeira do rancho da noite
tem ar de nobreza
um manto de ouro, cordão de São Jorge
e anel de princesa
Lá vem o cortejo do rancho da noite
brilhando na estrada
levando em seu rastro boemios, cantores
pela madrugada
E a lua, rainha do rancho da noite
parece um farol
mas ela só pensa em cair algum dia
nos braços do sol
X
RECEITA DE SAMBA
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Pra se fazer um samba
você tem que gostar
mas só gosta de samba
quem tem bom paladar
se você quer um samba
eu posso lhe ensinar
eu vou fazer um samba
e vou lhe convidar
No samba tem que estar de olho
é preciso dosar tempero e molho
pro samba não desandar
tem que ser bem picadinho
partido, miudinho
e você vai mexer devagarinho
o tempo do gosto apurar
No samba tem que estar do lado
o segredo é o sabor do refogado
e a malícia que a gente dá
tem que ter uma caninha
da boa, azulzinha
pra rapaziada da cozinha
que é quem faz o samba esquentar
e o som come a noite inteira
no prato, chaleira
ralador, panela, frigideira
não tem quem não queira chegar
acertando na receita, meu bem
você tá feita
pois bem, faz um samba e aproveita
me chama também pra sambar...
X
RIO-BAHIA
Joyce Moreno
(ela)
Ele não sabe se fica
Mas possa ser que não vá
Se eu ofereço canjica
Ele só quer mungunzá
Vive plugado na rede
Enquanto eu vou trabalhar
Acontece que ele é baiano
Acontece que eu não sou de lá
(ele)
Ela tão sofisticada
Me convidou pra sambar
Mas quer botar feijoada
Dentro do meu vatapá
Vive rezando pros santos
Mas chama o meu orixá
Acontece que ela é carioca
Acontece que eu não sou de lá
(ela)
Tem tanta gente no mundo
Gente de todo lugar
Fui ancorar na Bahia
Quase que eu fico por lá
(ele)
Eu deslumbrado com o Rio
Tanta beleza no ar
Mesmo estranhando esse frio
Acho que vou me mudar
(ela) Olha o suingue do cara
Todo pra cima de moi
(ele) Olha só que Guanabara
Pousou no meu patuá
(os dois)Tem muita gente que aposta
Que isso já vai acabar
Acontece que a gente se gosta
Acontece que é pra casar
X
RISCO
Joyce Moreno / Léa Freire
Nem as figas do Bonfim
nem tambores do Gantois
nem as bençãos de Oxalá, ai, ai
nem milagres do sem-fim
nas igrejas das Gerais
já não me protegem mais, ai, ai
nem se eu fosse lá rezar
junto aos pés do Redentor
nem se eu fosse te buscar
implorando o teu amor
nem se por favor
você desse alguma senha
nem se houvesse um dissabor
pra fazer você voltar
e eu me ajoelhar
nas escadas lá da Penha
Corro esse risco, corro o perigo
do desalento, do desabrigo
desassossego, e eu fico comigo
você me olha, desacredito
sigo, não ligo, digo e repito
que é mais bonito poder me arriscar
Nem se fosse pra jurar
pelo amor da santa cruz
se você desse uma luz
prometendo nunca mais
me deixava em paz
eu garanto que chovia
nem se fosse pra durar
mais um dia ou mais além
só Deus sabe quem
arriscava uma alegria
X
RODANDO A BAIANA
Joyce Moreno / Maurício Maestro
Lá vem, chegou pra perturbar
vem soltando os cachorros, botando a baiana pra rodar
lá vem, e tem que respeitar
quando roda a baiana, é que tem roupa suja pra lavar
Nossa alegria sambou na avenida, sumiu por aí
entre reis e rainhas na Sapucaí
generais da banda, ladrões de casaca, estrelas, travestis
e varrendo tudo, lá vem os garis
(rap da baiana):
_ Abre alas pra ala de quem lava a roupa suja todo o dia
vamo lá, rodando a baiana, todo o mundo
swing the old black lady from Bahia!
_Hein?!
_Swing the old black lady from Bahia!
Ela tem colares de conta
e as sandálias prontas pra sambar com energia
dignidade , nobreza , elegância ,
ela, em última instância, é a mãe, é a tia
Lava o nosso bloco de sujo
pega o dito cujo e põe de molho no tempero
se o nosso coração é um pandeiro
a baiana é a moral do povo brasileiro!
X
SAMBA DA SILVIA
Joyce Moreno / Silvia Sangirardi
Quando eu dou, não tomo
multiplico, somo [ bis ]
amo, mas não domo
sou fada e gnomo.
(improvisos)
Se dá errado o que faço
à depressão sou avessa
nunca deixei que um fracasso
me subisse à cabeça (quando eu dou...)
Agora basta ter calma
detonado o compromisso
tu devolve a minha alma
e não se fala mais nisso
(quando eu dou....)
Vai ver que é problema meu
uma neurose qualquer
mas será que homem nasceu
pra ser feliz com mulher? (mas quando eu dou...)
Chega pra cá, minha bela
abre os ouvidos, me escuta
devolve logo a costela
toma um rumo e vai à luta! (quando eu dou...)
Quando eu dou, não tomo
multiplico, somo
amo, mas não domo
sou fada e gnomo
quando eu dou
quando eu dou
quando eu dou, eu como.
X
SAMBA DA ZONA
Joyce Moreno
Quando estou num baile, é duro de aguentar
todo o mundo cisma de dançar com meu par
tiram ele de mim e não me deixam em paz
porque ele aprendeu na zona, com as profissionais
e é por isso que ele dança, e dança assim tão bem
quando cai no samba então, não tem pra mais ninguém
ele é sensual e sabe conduzir
sabe que uma dama também quer se divertir
Silêncio agora no salão, que o show vai começar
e o meu par na banda agora assume o seu lugar
ele é genial, todo o mundo diz
porque ele aprendeu na orquestra lá do Tabariz
e é por isso que ele toca, e toca assim tão bem
quando cai no samba então, não tem pra mais ninguém
ritmo infernal, frases tão sutis
o que ele aprendeu na zona é o que me faz feliz
X
SAMBA DE MULHER
Joyce Moreno / Léa Freire
Mulher que é mulher
sabe o que tem
mulher que é mulher
disfarça bem
não fala o que pensa pra ninguém
diz que não quando sabe o que quer
diz que sim quando for pro que der e vier
mulher que é mulher consola
mulher que é mulher descola
parece que deita e rola
mas quando não se controla
levanta a cabeça e chora
que bom que mulher pode chorar
X
SAMBA DO JOYCE
Joyce Moreno
Samba, samba
quando James Joyce ouviu um samba, samba
descobriu que a Lapa era na Irlanda, landa
Molly Bloom virou Carmen Miranda, randa
ele então juntou corda e caçamba, samba
resolveu sair atrás da banda, banda
foi no Adamastor pra Madureira, será?
Samba samba
o século vinte é só muamba
samba, samba
nêgo diz que Joyce é que era bamba
Samba, samba
quando James Joyce cai no samba, samba
chama o português lá da quitanda, anda
pede uma passagem pra Lisboa, voa
toma uma cerveja com o Pessoa, soa
sai com uma mulata da Gamboa, boa
quem pinta o retrato dessa nêga, Degas?
Samba, samba
o século vinte é só muamba
samba, samba
nêgo diz que Joyce é que era bamba
Samba, samba
James Joyce aterrisou na quarta-feira
depois de uma epifania na Mangueira
e uma saideira lá no bar Lagoa
olha o James Joyce no meu samba, à-toa...
X
SAMBA PARA ELIS
Joyce Moreno / PC Pinheiro
Clarão
luar
vulcão
no vesgo do seu olhar
quem vê
não diz
quem é
Elis,
essa mulher.
Mourão
pilar
brasão
da música popular
quem viu
bendiz
a voz
de Elis,
essa mulher.
É uma santa garganta que Deus fez
e quando ouviu, não quis nem copiar
raio de luz que passa uma só vez
mas que deixa um sagrado som no ar
não tem mais nem pra nós nem pra vocês
essa voz que o Brasil amou demais
feito estrela voltou pro céu talvez
ou foi cantar pros Orixás.
X
THE BAND ON THE WALL
Joyce Moreno
The band on the wall is saying something
the band on the wall is talking loud
the band on the wall will make some music
the band on the wall will play the last ball
The music I hear comes out of nowhere
the photo I see it looks so nice
musicians and tunes may be forgotten
the music they played is worth the price
but aren’t we all
a band on a wall
at the last ball
the band on the wall
X
TODOS OS SANTOS
Joyce Moreno / Maurício Maestro
Pai eterno, deste eterno penar
Nossa Senhora desaparecida
onde isso vai parar?
Santa Clara, venha nos clarear
Santa Luzia, da luz do dia,
vem nos olhar!
Somos um povo assim
que sempre respeitou todos os santos
meu Senhor do Bonfim
como é que a gente andou sofrendo tanto
Santa Bárbara
seu raio mandará
pela espada e o dragão de São Jorge
quem há de nos salvar
São Francisco
quem deu receberá
Santa Edwiges
quem deve teme
mas vai pagar
São Cosme e Damião
venham tirar da rua esses meninos
meu São Sebastião
crivam teu coração com desatinos
Desesperadamente
entende a nossa voz
rogai por nós!
X
Tudo
Joyce Moreno
Tudo é alegria
Tudo é fantasia
Tudo é ventania
Tudo é ilusão
Tudo tem seu preço
Tudo é só o começo
Tudo tem o avesso
Tudo tem perdão
Tudo tem resposta
Tudo é uma proposta
Tudo é o que se gosta
Tudo é opção
Tudo tem saudade
Tudo é novidade
Tudo tem verdade
Tudo tem razão
Tudo é relativo
Tudo tem motivo
Tudo é coletivo
E tudo é solidão
Tudo é poesia
Tudo é melodia
Tudo é harmonia
Tudo é uma canção
X
TUFÃO
Joyce Moreno
O mar quando quebra na praia é feroz
o vento que venta lá fora é veloz
a fúria da Mãe Natureza calou nossa voz...
Não há maldade
na tempestade
é a força da Mãe Natureza
cobrando o que é seu
não tem mistério
nenhum império
consegue quebrar a justeza
da obra de Deus
não há limite
nesse apetite
o homem destrói a beleza
e desfaz o seu chão
até que chegue a razão
e o colo da Mãe Natureza
nos dê seu perdão.
X
VALEU!
Joyce Moreno / Marcos Valle
Vai que valeu
chegando, entrando na roda da vida
dizendo que valeu, valeu...
Vai que valeu
lembrando que é só a viagem de ida
sabendo que valeu, valeu...
Um samba
quando é feito em boa companhia
é mais do que a vã filosofia
de quem chora o tempo que perdeu
E o tempo
é barco veloz, mas descansado
o tempo navega ao nosso lado
dizendo pra gente que valeu...
Vai que valeu...
Atento
ao trem do futuro em movimento
quem perde o lugar joga no vento
a sorte que a vida ofereceu
Que sorte
se a vida carimba o passaporte
quem sabe o que quer fica mais forte
e diz com certeza que valeu...
X
VATAPÁ
Joyce Moreno / Léa Freire
Vatapá, caruru, mungunzá
sarapatel, feijão de coco, guaraná
açaí, tucupi, tacacá
enchendo o prato do Brasil até cansar
Na barriga de quem come
sempre cabe um pouco mais
no olho grande de quem tem fome
sobra raiva há muito tempo
recessão, arrastão, turbilhão
- e quem sabe, algum dia
ilusão, esperança, explosão
- por que não?
Chama o Brasil, vamos pra mesa
o que é que há?
Esse país merece um vatapá!
X
OÁSIS
Joyce Moreno / Léa Freire
Pra quem passa, é uma paisagem
nada a acrescentar
mas pra quem vem de viagem
é porto de chegar.
Pra quem olha, é uma parede
construção vulgar
mas quem lá põe sua rede
chama de "meu lar".
Pra quem não conhece
os segredos do meu bem
pode parecer estranho o jeito que ele tem
se ele é muito louco
seja como for
muito é muito pouco pra explicar o nosso amor.
Pra quem olha desatento
é um rio a correr
mas pra quem chegou sedento
é água de beber.
Pra quem passa, é uma miragem
feita pra enganar
mas quem entra na estalagem
fica pro jantar.
Pra quem não conhece
os segredos do meu bem
pode parecer estranho o jeito que ele tem
dizem que é loucura
que é pura ilusão
mas quem vem da selva escura
jura que é paixão.
X
BRAZIL BOOKING
INTERNATIONAL BOOKING
Carolina Gouveia